Pular para o conteúdo principal

System Of a Down: O seu melhor dia no pior dia do mundo




Após um bom álbum de estreia, que abriu portas no mercado estadunidense, abrindo shows de bandas como Slayer e Metallica, o System of a Down resolveu dar o passo maior em meados de 2000: fazer um álbum que estourasse a banda no mundo.


Os ingredientes eles já tinham: Um bom som, uma mistura de rap,rock,heavy e trash metal com uma pitada música armênia que deveria soar deveras estranho, mas por causa de tanta estranheza agradava os ouvidos da galera. E eles se juntaram a um senhor produtor chamado Rick Rubin, que já tinha produzido o primeiro álbum de 1998 após vê-los tocando na cena underground de Los Angeles no ano anterior.


E em dezenas de composições, foram escolhidas as canções do álbum 'Toxicity' - as descartadas naquele momento fariam parte do 'Steal this album!' de 2002. A um mês do lançamento, foi lançado o clipe de 'Chop Suey!', uma canção que trouxe o SOAD à glória, mas quase o levou ao 'inferno'.


Antes de mais nada vou tentar 'explicar' a canção. Porque muitas das letras do System, feitas em sua maioria por Serj Tankian, tem um lirismo que deixa muito em aberto a sua interpretação. Muita gente acha que a música é sobre os momentos finais de um suicida ou de um viciado em drogas tendo uma overdose. Até faz sentido, mas segundo Daron Malakian, que contribuiu com a letra, a canção é em geral sobre o forte senso crítico do ser humano, inclusive quando se trata da morte de outra pessoa:

" 'Chop Suey!', Para mim, é sobre como os seres humanos são críticos, mesmo quando se trata da morte de alguém. Por exemplo, se alguém morre em um acidente de carro e estava bêbado, nós julgamos isso. A parte “I don't think you trust/ In My / Self-righteous suicide/ I / Cry / When angels deserve to die”  significa isso para mim"

E a canção ainda teria um outro nome, bem mais explícito com a ideia da canção: 'Suicide!'. A canção empolgou de cara os executivos de sua gravadora - quem não empolgaria com essa misturada toda? -, mas o nome foi sumariamente descartado. E Malakian veio com o trocadilho com a comida chinesa que vem tudo misturado - Chop Suey significa 'pedaços misturados' em chinês, tudo a ver com a melodia da música, uma intensa mistura de música armênia, rap, metal e um refrão grudento nível 'journey'  pra fechar apoteoticamente. E suey ainda seria um trocadilho para suicídio, algo bem discreto.


Após o clipe - gravado em um motel chechelento em Holywood, com fãs e seringas usadas por todo o lado - estourar na MTV em agosto, o álbum 'Toxicity' foi lançado em 4 de setembro de 2001, fazendo sucesso absoluto impulsionado pelo primeiro single. E o número 1 da Billboard veio rapidamente com 220 mil cópias vendidas em uma semana, mas em uma data que ficou marcada no mundo inteiro por outra coisa - 11 de setembro. O baixista Shavo Odadjian falou sobre aquele momento:

"Terça-feira era o dia em que o SoundScan costumava ser lançado, e você descobriria onde estava nas paradas da Billboard . Eu tinha um pequeno apartamento em North Hollywood e meu telefone não parava de tocar. Eu provavelmente tinha bebido na noite anterior e não queria me levantar. Mas eu atendi o telefone, e era minha mãe dizendo: “Ligue a TV”. Ligo a TV e, de repente, a segunda torre cai. Ao mesmo tempo, meu telefone toca novamente e eu atendo. É meu empresário e ele diz: “Parabéns, você é o nº 1 da Billboard ”. pensei comigo mesmo: É foda! Eu fico animado? Fico triste? O que é isso? E a turnê ainda vai acontecer?"


E em meio a dor de toda uma nação, o fato de 4 armênios-estadunidenses terem atingido o número 1 das paradas logo em um fatídico dia para os Estados Unidos fizeram alguns loucos da teoria da conspiração 'viajarem na maionese' - talvez não sabendo que a Armênia fica na Europa e não no oriente médio.

E para piorar, poucos dias depois dos atentados, Serj Tankian publicou no site da banda um protesto raivoso sobre a política externa dos Estados Unidos, expondo a sua opinião sobre os erros do país que culminaram ao ataque. Mas este texto causou muitos problemas para a banda. Músicas do álbum como 'Aerials' - terceiro single - e 'Jet Pilot' e até 'Chop suey!', por conta do verso já citado acima,  começaram a ser consideradas 'profecias' ou incentivadoras do islã, afinal o caça às bruxas logo após 11 de setembro era devastador. Algumas rádios chegaram a proibir a execução de 'Chop Suey!' por um tempo, por conta do que da interpretação das pessoas sobre o 'Self-righteous suicide'.

Serj acabou publicando o texto no site sem o consentimento de todos na banda, o que causou um pequeno atrito por causa da repercussão negativa - apenas nos Estados Unidos acabou pegando mal, no resto do mundo, o texto não teve grandes consequências. Mas no país, até ameaças de morte a banda sofreu, o que motivou que o texto fosse retirado do ar.

E três semanas depois da tragédia, o SOAD saiu em turnê  chamada 'Pledge of Allegiance' (Aliança de fidelidade em tradução livre) e na estrada eles sentiram esse caças às bruxas: o baterista John Dolmayan, de tanto ter suas malas revistadas em aeroportos, ganhou o apelido de John “Random Bag Check” Dolmayan pelo pessoal da banda. Shavo ouvia xingamentos quando a banda excursionava no centro-oeste e no sul dos Estados Unidos: "Eles pensavam que os armênios eram do Oriente Médio, porque ali ninguém sabia o que era um armênio. Éramos rotulados como jóqueis de camelos, terroristas, todas essas calúnias malucas. Isso foi embora com o tempo, mas foi uma merda termos esse tipo de vibração naquele momento."

Já Serj tinha medo de um ataque terrorista acontecesse no meio de um show: "Estávamos em turnê, na frente de 20-30.000 pessoas todas as noites, enquanto há todas essas ameaças terroristas iminentes, de acordo com as notícias. Foi um dos momentos mais desconfortáveis ​​e estressantes de nossas vidas."

Mas com o tempo, 'Chop Suey!' se descolou das polêmicas daquele 11 de setembro e se tornou uma das canções mais ouvidas na primeira década do século XXI e atualmente ela tem mais de 1 bilhão de views - mas ao mesmo tempo, acabou sendo o princípio do fim da banda, onde os integrantes da banda começaram a se afastar. 

" 'Chop Suey!' foi realmente ótimo para o System of a Down - nos tornou mais famosos, nos rendeu mais dinheiro e nos elevou como banda principal de arena. Mas, ao mesmo tempo, foi nessa época que todos começamos a ter ônibus separados e também a viver nossas próprias vidas separadas." disse Malakian

Atualmente, a banda se encontra em hiato desde 2005, com esparsas reuniões para algumas turnês e duas músicas em 2020 em prol do povo armeno durante o conflito de Nagorno-Karabakh com o Azerbaijão., 'ptotect the land' e 'genocidal humanoidz'  


* todas as declarações do pessoal da banda foram retiradas do site vulture

** Um dia sai um texto mais pessoal sobre o primeiro impacto que tive com o SOAD. Um dia



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Foo Fighters: Escancarar a dor para curá-la

O compositor tem uma uma relação instigante com a música. É onde ele externa suas alegrias e tristezas para que elas saiam de si e vão encontrar o mundo e quem sabe ajudar a quem ouvir. David Grohl, que do luto pelo fim do Nirvana criou o Foo fighters, resolveu fazer do recém álbum lançado, 'but here we are', uma grande terapia coletiva para que ele, sua banda e o todos os fãs pudessem passar melhor por esse luto da perda do baterista Taylor Hawkins  E Se os fãs tiveram o duro golpe de perder o querido baterista - o que por exemplo me deixou meses sem ouvir músicas do Foo Fighters por conta da dor dessa partida repentina - Grohl teve uma dor muito pior para se somar a essa meses depois: A perda de sua mãe, Virginia por conta de um câncer aos 84. Aquela que deixou um moleque seguir seu sonho de viver música e foi o grande norte do músico durante toda a vida.  E todas as letras são guiadas pela tentativa de Grohl superar essas duas perdas. A música que abre o disco é um o já hit

Shun 'mulher' e a perda de sua identidade

A imensa fan base do Cavaleiros do Zodíaco no Brasil viu com muitas ressalvas o trailer do remake da franquia que será lançado pela Netflix em 2019. Tudo pela a nada sutil mudança de gênero de um dos personagens principais do anime: Shun, o cavaleiro de bronze de Andrômeda, agora é uma mulher. O xingamento no twitter atingiu o sétimo sentido e dessa vez, com razão. Não vou bancar o politizado e negar que na primeira exibição, eu (assim como todo mundo que viu, afinal eram outros tempos) achava o Shun um saco e um tremendo de - perdoem o termo chulo e politicamente incorreto - uma 'bichinha' que usa uma armadura com seios sem poderes que quando a situação apertava tinha que chamar o irmão bad ass para estraçalhar tudo- impossível esquecer o famoso 'IKKIIIIII'. Mas eu era uma criança nos anos 90 e não conseguia entender toda a profundidade que o Shun tinha, o que só vi quando revi o anime e depois acompanhei a saga de Hades anos depois. Shun é um dos melhores

Titãs, 40 anos: Do pior ao melhor álbum (na minha humilde opinião)

Uma das bandas que mais amo dentre todas chama-se Titãs. O impacto que ela me causou pra ser do roquenrol perdura até hoje, e por mais que hoje ela não seja aqueles titãs de outrora, tenho um carinho enorme pelos integrantes e ex-integrantes.  E durante uma 'trava' que eu tive em março deste ano, que eu não conseguia escrever. nada saia, me vinha tantos pensamentos negativos e me sentia um merda que se achava incapaz de escrever com propriedade sobre qualquer coisa, então o deus do shuffle me colocou alguma das canções do Titãs que ativaram um gatilho dentro de mim e  foi me saindo de mim estes textos de forma bem rudimentar, e quando vi, me senti apto para escrever novamente.  Voltei a escrever lá pros idos de maio/junho e acabou que este texto não viu a luz do dia, porque ia polindo algo aqui , algo acolá, acertando um erro ou outro... Até então. Já que resolvi que no dia 16 de outubro, pra celebrar o dia em que o Titãs fez o seu primeiro show em há 40 anos atrás - Ou segundo