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Linkin Park: modernizando o passado para um novo futuro



E o Linkin Park voltou. Gostando ou não, estamos falando da volta da última grande banda de rock que furou as bolhas e entrou no mainstream, por conta de todo o seu impacto no cenário musical na primeira década, e ditando o que o foi chamado de Nü Metal com o seminal 'Hybrid Theory'. Seu fim repentino por conta da trágica morte de Chester Bennington em 2017, deixou um vácuo que bandas não conseguiram repor. E sete anos depois, eles estão de volta com tudo. As adições fizeram bem ao som da banda, que faz um som seguro com a marca 'linkin Park' sem deixar de olhar pra frente com algumas experimentações típicas do grupo.

Mike Shinoda deixou claro que este álbum é uma celebração ao legado do passado, presente e futuro da banda, o que ficou bem bem nítido na primeira audição. A aura do Linkin Park que conquistou uma geração está lá, falando sobre temas mais pessoais, como relacionamentos tóxicos, manipulação emocional, brigas com seus demônios internos, como depressão e até drogas (mesmo que implícito), tudo com o peso dos primeiros álbuns, guitarras com riffs pesados com vocais rasgados e guturais, e com 'samples' que grudam na cabeça da gente - Obrigado John Han...

Mas a 'fórmula Linkin Park' foi modernizada para capturar novos fãs. As músicas não ultrapassam quatro minutos, são (ainda mais) diretas, e por mais peso que algumas dela tenham, em outras o recado é tentar deixar esse peso mais perto possível do pop para pegar uma nova geração de fãs. Um exemplo é como Shinoda canta seus versos em muitas canções, sendo bem mais melódico, talvez tentando o emular a melodia do 'Trap' (que ja tentei ouvir e não consigo gostar. estou velho).  Em um pouco mais de meia hora você ouve as onze músicas e a banda ainda fez a sacada de fazer a intro conversar com a última música, fazendo aquele looping que a gente nem repara e que os jovens tanto gostam - isso se você ficar com o repeat ligado no seu player de áudio quando ouve o álbum.

Antes de me aprofundar nas músicas, quero falar dos novos membros: Emily Armstrong e Colin Brittain. Emily já foi bem falada por todos, mas quero destacar a escolha mais do que acertada da banda. Ela mostrou talento vocal desde a primeira música e o principal é que no álbum ela mostra todo o seu repertório. Sabe ir da voz de 'anjo' para o gutural, imprimindo sua própria característica na banda, sem emular o Chester, mesmo em canções que você ouve e pensa como seria ele cantando (daqui a pouco tá pingando vídeos com IA emulando as voz dele nas canções).  Emily aprovadíssima pra mim.

Agora o que pouca gente fala do Brittain - que trabalhava mais como produtor do que músico na última década, que deu um novo gás na cozinha da banda, algo que o Rob Bourdain - que decidiu não voltar pra esse recomeço - já estava devendo muito (eu sempre achei o elo mais fraco da banda). As levadas de bateria dele estão ótimas, traz um punch que remete aos primeiros álbuns da banda, mas que não soa nostálgico, mas revitalizado. Uma adição tão importante quanto a da Emily, ao meu ver.

E as canções? Após a intro, vem 'Emptiness Machine', um hit instantâneo que foi um perfeito cartão de visita deste recomeço em uma canção redondinha, uma das melhores do álbum que ouvi direto desde o lançamento e ainda não me cansei de ouvir. 'Cut the Bridge' tem uma vibe mais alternativa como em 'Bleed it out' do 'minutes to midnight' e soa bem agradável. 'Heavy is the crown' música que foi tema das finais do mundial de 'League of Legends' (olha aí o Shinoda, fã de games, tentando se reconectar o jovem de hoje) é uma música linkin park clássica, com Joe Hahn fazendo aquele sample que gruda no cérebro da gente e nunca esquece. E Emily aqui manda um grito de 17 segundos pra mostrar que ela é braba - no show ela chega a 13 segundos em média (sim a galera conta) mas não vejo problema. Não consigo sustentar um grito assim por três segundos, então o que a Emily faz está ótimo!

'Over each other' não me impactou logo de cara quando foi lançado como terceiro single, mas nas audições seguintes foi se tornando mais interessante. Única canção solo de Emily, que mostrou nesta semi-balada mais do seu arsenal vocal cantando bem melodicamente nesse primeiro 'respiro' do álbum - vai ficar fofa se um dia  a banda fizer uma versão acústica dela. Em seguida vem a melhor pancada do álbum, 'Casualty', que tem até o Shinoda gastando a garganta, com um trabalho de bateria sensacional, remetendo o hardcore, Riff de respeito, Emily quebrando tudo. Virou minha preferida do álbum.

'Overflow' é uma das mais pop do disco e apesar de ser uma canção até que legal, tá mal colocada no álbum, assim como todas as restantes. Embora eu entenda a intenção de intercalar uma pancada e um respiro, pra dar aquele misto de sensações pra quem ouve pela primeira vez, acho que se o impacto seria maior se de repente 'Two Faced' fosse a sétima música e 'Overflow a oitava, com estes intervalos sendo um pouco mais longos. 

Two Faced, a última música de trabalho lançada, é outra canção que gostei muito. Embora ela pareça com 'One Step Closer' musicalmente, o somo do início dos anos 2000 ficou bem repaginado nesse som. A canção  foi onde pegaram mais pesado na nostalgia - o que funcionou muito comigo e deve funcionar com os fãs das antigas também.

'Stained' para mim é a canção mais fraca do álbum, é aquela que deveria versar com a fase da última década onde a banda caminhava para um som mais pop experimental, mas ficou parecendo mais com o Imagine Dragons do que a fase mais pop do Linkin Park. Talvez ela cresça possíveis em novas audições, mas no momento deste texto foi a que menos me agradou.

'IGYIEH' (I give you everything I have ) é outra boa canção com o carimbo da fórmula linkin park, mas que já dá mais indícios do futuro do que do passado, com Emily tendo sua melhor performance no álbum. O encerramento é com 'Good Things go', uma canção que relembra o álbum 'one more light', soando mais suave, experimental, mas sem perder a essência da banda, algo que muitos fãs reclamaram na época do fatídico lançamento do álbum de 2017. Essa foi a música em que Shinoda versa melhor e mesmo sendo uma música com um tema um pouco pesado, acaba um álbum de maneira mais pra cima, não deixando aquele aperto que o fim do último álbum com o Chester deixava (mais ainda depois da morte dele)

Admito que sou suspeito para avaliar um álbum do Linkin Park, já que 'Hybrid Theory' surgiu no auge dos meus 15 anos, e fui muito impactado pela banda e pelo subgênero que ela ajudou a cunhar nos anos seguintes. Vê-los recomeçando me deu um alento no coração, já que apesar deles não estarem no topo das minhas bandas preferidas, gosto demais de muitas coisas que eles fizeram e depois do sincero e soturno 'One more light' - ótimas e tristes letras, mas que nunca mais parei pra ouvir, porque me traz tantas bad vibes - eles e seus fãs precisavam deste recomeço, após superar as fases do luto. 

'From zero' é um ótimo álbum, que realmente celebra o legado da banda e aponta o caminho para futuro do grupo, que talvez não experimente tanto quanto já fez antes - quando a gente é mais velho a gente fica assim mesmo, ainda mais uma banda que fica entre a cruz e a espada de agradar sua base de fãs enquanto angaria mais nomes - mas parece que sabe por onde tem que ir, agradando gregos e troianos, reocupando da última grande banda de rock do mainstream.


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