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Mais talk, menos show


David Letterman é uma das sumidades do gênero Talk Show, que gênero televisivo que ganhou fama mundial a partir dos anos 80. Só que desde então,sua estrutura permanece praticamente a mesma . Um entrevistador em uma bancada, público, banda, tiradas sarcásticas que faziam o povo rir, entrevistas diárias, um padrão copiado por todo mundo e que nomes como Letterman e Jay Leno ajudaram a difundir e que Jô Soares foi o grande expoente desse gênero no Brasil.

David trabalhou nesse estilo por 33 anos, sendo o mais longevo dos Estados Unidos, passando John Carson, que Letterman considera como o seu mentor, que ficou por 30 anos no ar com seu Tonight show. Após se aposentar em 2015, Letterman volta com uma nova proposta de um programa de entrevistas, com o seu 'my next guest needs no introduction' (O próximo convidado dispensa apresentações, em português), disponível no netflix.

Letterman, com uma barba digna de um profeta biblico, como bem citou seu entrevistado,  desconstrói a imagem do talk show da TV, ao fazer a entrevista em um teatro sem todos aqueles aparatos, com apenas duas poltronas no palco e o público. Seu primeiro convidado é o ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, que é um poço sem fim de carisma e grande admirador de Letterman. Em um longo bate papo, Obama falou sobre mulher, suas filhas, a importância de sua mãe em seu caráter, além dos aspectos políticos, claro, sem citar nominalmente o presidente atual, Donald Trump, em uma espécie de etiqueta que os ex-presidentes americanos tem que seguir.

Obama é um mestre da oratória, e concordando ou não com suas opiniões, ele é uma pessoa em que você tem que parar para ouvir e compreender o que ele diz. Uma das declarações mais interessantes dele na minha opinião foi sua explicação de como a população americana é desestimulada a não votar, o que dá margem para certos nomes suspeitos assumirem cargos públicos. uma alfinetada básica no Trump e um quadro que possivelmente acontecerá no Brasil nas eleições desse ano, não é mesmo?.

Letterman, com o bom tempo que dispõe no programa - e da total liberdade que a netflix lhe deu - Também dá um tom documental a entrevista, para contextualizar a posse de Obama como o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos com domingo sangrento, que aconteceu em Selma, Alabama em 1965, entrevistando o líder da marcha pacífica e hoje congressista John Lewis, que resume o impacto de toda a luta dos negros por direitos civis nos anos 60, ao afirmar que se não tivesse se ele e Martin Luther King não tivessem lutado pelo direito civil dos negros, Obama não seria presidente.

Por mais que seja assistido, o gênero talk show é um gênero engessado, desesperado em conseguir aquele momento em uma entrevista que vire viral na internet. Por passar no fim de noite e ter uma formato de sucesso bem definido, fica difícil as emissoras inovarem- com raras exceções, já que com uma audiência definida, ousar é risco de perder para o adversário. Letterman mostra toda genialidade como entrevistador e conduz um papo agradabilíssimo com Obama, mostrando que sem todos os adornos, bandas ou sidekicks- os populares 'escadas' no jargão artístico do Brasil - e com bons convidados,  é possível prender o espectador por uma hora sem se cansar.

Vamos esperar como serão as conversas com os próximos entrevistados em que a rede de streaming disponibilizará uma vez ao mês: George Clooney, Jay Z, Tina Fey, Howard Stern e Malala Yousafzai.




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