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Titãs, 40 anos: Do pior ao melhor álbum (na minha humilde opinião)



Uma das bandas que mais amo dentre todas chama-se Titãs. O impacto que ela me causou pra ser do roquenrol perdura até hoje, e por mais que hoje ela não seja aqueles titãs de outrora, tenho um carinho enorme pelos integrantes e ex-integrantes. 

E durante uma 'trava' que eu tive em março deste ano, que eu não conseguia escrever. nada saia, me vinha tantos pensamentos negativos e me sentia um merda que se achava incapaz de escrever com propriedade sobre qualquer coisa, então o deus do shuffle me colocou alguma das canções do Titãs que ativaram um gatilho dentro de mim e  foi me saindo de mim estes textos de forma bem rudimentar, e quando vi, me senti apto para escrever novamente. 

Voltei a escrever lá pros idos de maio/junho e acabou que este texto não viu a luz do dia, porque ia polindo algo aqui , algo acolá, acertando um erro ou outro... Até então. Já que resolvi que no dia 16 de outubro, pra celebrar o dia em que o Titãs fez o seu primeiro show em há 40 anos atrás - Ou segundo o Nando Reis, foi entre 15 e 16 - resolvi colocá-lo no ar..

Lista é sempre algo polêmico, porque é algo pessoal. Tem álbuns que me tocaram de uma maneira que não tocaram outra pessoa e vice-versa, tem umas que o pessoal vai querer mais acima da lista, outros vai querer mais para baixo e é normal.

no mais, quero dizer que deixei de fora os álbuns ao vivo, como Go Back de 88, acústico de 97, etc porque, como o nome diz, são álbuns ao vivo, e apesar de algumas inéditas presentes neles não tem o que avaliar. Só usei os gravados em estúdio, com exceção do último de 2022, 'olho furta-cor' que eu não parei para ouvi-lo com aquela calma de crítico musical chato necessária para avaliar um disco. Sem mais delongas:

 

As Dez mais 



O disco de tributos feito após os rentáveis acústico e volume 2, pareceu apenas ser um caça níquel, uma tentativa da WEA- gravadora dos Titãs - espremer a galinha para soltar os últimos ovos de ouro antes do fim do contrato com o grupo, que rumou para a efêmera Abril. E deu certo, pois foram 400 mil cópias vendidas, mas é quase uma unanimidade que é o pior álbum do grupo. E uma pena que este tenha sido o último o Fromer, falecido em um atropelamento antes das gravações da 'melhor banda...'

Versões fracas, com os interpretes nem um pouco inspirados, tirando o peso de músicas e galhofa de outras, só se salvou a versão de 'Aluga-se' do Rauzlito, que foi uma das pouquíssimas que soaram melhor que a original - até porque nessa fase Raul Seixas infelizmente já estava em declínio e ela acabou nem entrando para hall dos clássicos dele - figurou por anos no set list de shows do grupo.  Outro bom aspecto do disco é mostrar pra novos públicos músicas de bandas ótimas como xutos e pontapés (de Portugal), Mutantes e Inocentes, mas depois é melhor ouvir os originais e mandar um 'putz, como os Titãs fizeram isso?'

Ouça: 'Aluga-se' e...só essa mesmo

Esqueça: todo o resto. Melhor ouvir as versões originais


Sacos Plásticos 



Não sei se foi intencional, mas o disco soa como o nome do álbum. A volta do grupo às incursões de música eletrônica - o que não acontecia desde 'O blesq blom' - soou muitas vezes descartável. A busca pelo então 'midas' da produção Rick Bonadio na época foi válida, mas calhou que o toque do Midas da produção tava meio enferrujado e o som genérico evitou que algumas canções com boas letras  ficassem sem o destaque merecido.

O bom talvez foram os hits do grupo, que fizeram o grupo voltar às rádios, terem tema de novela - Já em um tempo que isso já não era tão relevante, mas é alguma coisa, mas deve ter dado pra galera pagar os boletos. Esse foi o último álbum com Charles Gavin.

Ouça: "porque eu sei que é amor" se estiver apaixonado. 'Antes de você', 'Problema', 'não espere perfeição' e 'quem vai salvar você do mundo?' são boas canções, que poderiam ser melhores executadas, mas ainda valem a audição

Esqueça: 'Amor por dinheiro' um cartão de visitas péssimo do álbum. Quem ouviu o álbum depois dessa música é muito fã.

 

Como estão vocês? 



O primeiro álbum sem Nando Reis tentou ser mais direto, como os dos anos 80, sem deixar de lado algumas fórmulas de sucesso que o grupo criou, como aquela baladinha pra tocar no rádio, o que vem desde 'Pra dizer Adeus' no acústico. A da vez é a simpática 'Enquanto houver sol' - que sua intro, originalmente no teclado, foi uma das primeiras frases que aprendi a tocar no violão. 

Mas "como estão vocês" repete o erro que vem do álbum "Melhor banda...", o excesso de músicas pra encher a capacidade do CD, com muitas sendo descartáveis, rasas, principalmente no início do álbum, que começa a ficar mais audível a partir da quarta canção.  Talvez se o álbum começasse com "Eu não sou um bom lugar" talvez gerasse um impacto maior.

Ouça: "Provas de Amor" com seu verso "não existe amor, apenas provas de amor" é uma das ótimas letras do grupo. "Vou duvidar", "Pelo Avesso", "A guerra é aqui" e "As Aventuras do Guitarrista Gourmet Atrás da Refeição Ideal" a fofa homenagem ao falecido Marcelo Fromer. Um destaque para mim foi "Ser Estranho", na época parecia que foi feita pra mim. Até hoje acho que é =(

Esqueça: O início do álbum é péssimo. a indiretinha "Como estão vocês?", "Você é minha" e a pavorosa "Gina Superstar" são duros golpes auditivos até para o fã mais hardcore do grupo


Domingo 



Depois de dois álbuns deveras ousados e com pouca repercussão, os Titãs resolveram voltar a um som mais pop em 1995, talvez porque os boletos estavam começando a chegar e viu-se a necessidade de fazer um álbum com um som mais palatável para as rádios, nascendo o 'Domingo'. Considerado um álbum insosso até por quem fez parte dos Titãs (Nando Reis, é de você que tô falando) , ele não é ruim, mas também não é um daqueles álbum maravilhosos. É o famoso álbum nota 6 

Mas na verdade, 'Pouco inspirado' é a melhor expressão para ele. Cheio de convidados, o Titãs inclusive gravaram uma música de alguém de fora (eu não aguento) e teve um compositor convidado (Herbert Viana) de algumas boas canções, o álbum não trouxe nada marcante na discografia do grupo, exceção da música título do álbum, talvez, parecendo um longo (na época do Cd, os Titãs foram mais outro grupo que achou que era pra fazer trocentas músicas pra encher bolachinha deixando o álbum longo) disco genérico de uma banda genérica. De marcante, só o visível esforço de Sérgio Britto nesse disco, quase onipresente nas composições e o fato dele ser o preferido do Jack Endino. Vai entender.

Ouça: O início do álbum é bom, com 'Eu Não aguento', 'Domingo' e 'Tudo que você quiser'. Mas depois só presta 'uns iguais aos outros' e 'Eu não vou dizer nada' cumpre o que promete e é legal.

Esqueça:  E é uma pena que a parceria com Hebert é em uma canção que acho fraca. E também foi gravada no ótimo Nove Luas - 'Caroço da cabeça'. No resto, tem muita canção que parece sobra do caderno do Sérgio Britto


Doze flores amarelas 



Após a saída do Paulo Miklos e a entrada de Beto Lee, filho da deusa Rita Lee, que virou músico de apoio do grupo, os Titãs restantes resolveram um projeto ousado, bem a cara do Titãs em vários momentos da carriera gostam de quebrar expectativas. Mas nesse caso, infelizmente esse projeto se mostrou ousado até demais para o grupo. Uma Ópera rock, que fala de três meninas que encontram uma festa e são estupradas, com cada uma reagindo ao estupro de uma maneira diferente, tinha um potencial imenso, mas acabou ficando aquém do esperado e pior, longo demais para um álbum.

Se talvez o Titãs estivesse com todos os seus membros no auge, e decidissem fazer algo do tipo, com a as pitadas de agressividade e letras diretas do Nheengatu, Doze Flores amarelas entraria na história como 'Tommy' - a ópera rock mais famosa da história, feita pelo The Who.Mas mesmo com os convites feitos, com as atrizes convidadas a interpretar as Marias da história e Marcelo Rubens Paiva e Hugo Possolo ajudando no enredo, a história, apesar de boa, atual e com letras concisas, ficou cansativa em três atos e 29 músicas. 

Se talvez as meninas cantassem mais canções - algo que foi criticado em seu lançamento em 2018, já que elas são as protagonistas e só cantam no último ato - ou fossem chamadas algumas cantoras para interpretar os papeis delas, ou se algumas canções fossem cortadas, ou se o sentimento megalomaníaco fosse mais controlado, mesmo sem a grande parte dos titãs originais,  seria um álbum genial. Mas infelizmente, ele é de difícil audição, apesar de ser bom. E em um mundo em que cada vez mais ouvir uma música virou tema de fundo, e não mais um evento, complicou o trabalho do trio.

Ouça: O disco todo merece ser ouvido pelo menos uma vez, para entender toda a complexidade, as boas ideias e o que poderia ter sido essa ópera rock

Esqueça: Depois se quiser ouvir de novo, corta umas três músicas de cada ato e as intros, que dá uma melhorada.


A Melhor Banda de Todos os tempos da última Semana 



O primeiro álbum de inéditas em seis anos acabou se tornando dolorido, tudo porque no primeiro dia de gravações Marcelo Fromer, guitarrista conhecido como o conciliador do grupo, foi atropelado por um motociclista quando corria, vindo a falecer tragicamente.

Abalados, os Titãs resolveram continuar o cronograma e gravaram as canções combinadas, mesmo as que falaram de morte no título, como 'um morto de férias' - letra do Fromer sobre a crise de meia-idade - e 'Epitáfio', ótima balada de Sérgio Britto que virou um mega hit e ditou a regra do grupo nos álbuns seguintes do grupo. O álbum apresentou boas canções, e apesar de ter sido considerado fraco na época, ele envelheceu razoavelmente bem - muito graças aos dois álbuns seguintes - e se mostrou um bom álbum, sem talvez o brilho de outrora dos Titãs, mas é competente. Seu maior defeito é que ele é longo demais, na velha mania de que o grupo tinha de se sentir obrigado a encher um cd todo com 893497 músicas sempre.

Ouça: O deboche da música título sempre me agradou. 'O mundo é bão, Sebastião' é sensacional, 'Epitáfio' e 'Isso' são boas baladas. 'Não fuja da dor', 'Mundo cão' e ' Cuidado com você' merecem uma boa audição

Esqueça: 'Um morto de férias' me incomoda não por ser ruim, mas por ter sido feito pelo Fromer, então ela acaba soando meio mórbida, pelo menos pra mim - Embora 'Epitáfio' soa um pouco mórbida também, mas foi feita pelo Sérgio Brito, enfim.  O fim do disco é fraco, com 'Bananas' e  'Alma lavada', que eu sempre passava no cd player - é, antes não existia spotify se tiver alguém com menos de 20 anos lendo isso, o que eu duvido muito.


Volume Dois



Álbum feito pra surfar na onda do excelente 'Acústico MTV' com mais versões de hits dos Titãs - e só tá aqui porque foi gravado em estúdio, ao contrário do já citado acústico, gravado ao vivo no teatro João Caetano no Rio de Janeiro. - que ficaram de fora da primeira coletânea, além de algumas inéditas. então vamos dividir a análise em releituras e inéditas: 

Releituras - dos sucessos dos Titãs no disco, a de se destacar os novos arranjos que rejuvenesceram e destacaram canções que ficaram esquecidas no Televisão como "Insensível", 'Toda cor'  e 'Não vou adaptar'. A regravação 'É preciso saber viver', de Roberto e Erasmo, que virou um mega hit do grupo de tão bem executada pelo grupo.

Inéditas - são as grandes responsáveis pelos pontos baixos do álbum. Nando Reis contribuiu com músicas que são mais cara da carreira solo dele do que os Titãs. 'Amanhã não se sabe' se tivesse um arranjo melhor, seria um hit do disco, assim como foi com o LS Jack, que pisou um pouco no freio da canção e virou uma senhora balada. 

No fim, é um bom álbum mais pelas músicas consagradas do que pelas inéditas, que vão acabar sendo passadas em sua maioria.

Ouça: Além das músicas  já citadas do álbum Televisão, 'Lugar nenhum' versão country e 'Miséria' mais temperada ainda na world music merecem ser ouvidas. Das inéditas, 'Caras como Eu' merece uma audição com carinho

Esqueça: A maioria das inéditas é bem fraquinha, muitas por conta dos arranjos - para você ter ideia, O LS Jack tem uma versão de 'Amanhã não se sabe' bem melhor do que a do Titãs - , e as versões de 'Domingo' e ' Eu não aguento' são bem fracas também, parece que não tiveram o mesmo carinho que tiveram para refazer os arranjos como fizeram os de 'Televisão'


Tudo ao mesmo tempo agora 




Mais do que estourados depois do ótimo 'õ blesq bom', a banda resolveu sair do caminho do sucesso e partir para experimentação, algo que sempre foi comum na discografia dos Titãs. Só que a mudança de rumos foi mais hard do que o esperado no tudo ao mesmo tempo agora.  É um bom álbum? E, com influencia clara no concretismo em algumas letras,  mas a grande falha dele foi a necessidade de tentar chocar como em Cabeça Dinossauro, mas se o ataque no incônico álbum foi nas instituições nesse o ataque foi pudor nosso de cada dia, se valendo até da escatologia ('isso pra mim é perfume', tô falando de você), que somado aos Titãs se autoproduzindo, o que causou algumas reclamações por conta da qualidade do som. Usar 'Saia de mim', uma canção que tem versos como 'Saia de mim/como um peido/tudo o que for perfeito/', como primeira música de trabalho, fechou todas as portas que o grupo já tinha escancarado, e só foram realmente reabertas com o acústico em 1997.

Tudo ao mesmo tempo agora ainda é um álbum de difícil audição, sem um hit radiofônico tão comum nos álbuns anteriores do grupo e o transformou no famoso ou ame ou odeie. Mas assim como o Titanomaquia, ganhou um status de cult - semicult seria mais justo, ao meu ver. 

Ouça: o famoso lado A de 'Clitóris' até 'Eu vezes eu', com letras que mesmo abordando órgão genital, igreja e ejaculação entre outras coisas, soa agradável e merecem ser ouvidas. 'Filantrópico', 'Flat/cemitério/apartamento',  são ótimas também. Branco Melo estava inspirado nos vocais nesse álbum.

Esqueça: 'Isso pra mim é perfume' e 'Saia de mim' são aquelas músicas ótimas pra ouvir almoçando #SQN. Até hoje é bizarro pensar que o Nando Reis, dono de baladas tão bonitas, escreveu que queria cheirar a calcinha suja de menstruação da amada.  Mas ela não deixa de ser uma canção de amor. Beirando a psicopatia, eu diria, mas é uma canção de amor.


Titãs (1984)

O debute dos Titãs - ainda com André Jung nas bateras - foi a síntese de uma banda de oito elementos tentando se encontrar. O grupo atirou para todos os lados, mas a estética new wave foi a que mais sobressaiu, como se pode ver no megahit 'Sonífera ilha', um iê iê iê muito louco. A tática de usar roupas combinando e fazer dancinhas em programas popularescos ajudou ainda mais o grupo a popularizar a canção, que é uma das melhores do disco, com um refrão que gruda pra sempre no cérebro. 

O disco tem clássicos como 'Marvin' e 'Go Back', mas que só ganharam versões definitivas no álbum ao vivo lançado em 1988. E 'querem meu sangue', versão de uma música do Jimmy Cliff, que soava muito bem, mas só vem sucesso lá com o Cidade Negra dez anos depois. É um álbum que sinceramente deveria estar mais pra cima deste post muito pela sua produção bem fraquinha, mas fica aqui pelo fato de ser o primeiro e que as músicas mostravam que o grupo tinha boas ideias, mas eles eram inexperientes demais para executá-las da maneira correta, vide o que aconteceu com 'Marvin' e 'Go Back' anos depois. Eles ainda tinham um caminho a percorrer. 

Ouça: ♪ sonífera ilha, descansa meus olhos, sossega minha boca, me enche de luz...♪  A versão original de 'Go Back' é boa,um belo reggaezinho assim como 'querem meu sangue' versão de um clássico do Jimmy Cliff. Mas o riff do primeiro hit dos Titãs vai ficar no cérebro te dificultando a ouvir o resto do álbum.

Esqueça: Babí índio é aquela música que pode se considerar datada, só deve ter sido legal de ouvir em 1984 mesmo. Não sei, não sei. Pode ser.


Nheengatu 


Como muitos falam, o último grande álbum dos titãs. E sou obrigado a concordar. Após cansar a fórmula de baladinhas pipippopó, os Titãs remanescentes (Arnaldo, Nando e Charles estavam fora e Fromer faleceu) resolveram voltar às raízes das músicas de protesto dos tempos do 'cabeça' e 'jesus' com nheengatu. E tem boas músicas logo de cara, como 'Fardado', 'mensageiro da desgraça' 'Fala, Renata' (com recado pro Lobão que o deixou bem puto kkkkkk) e sem medo de abordar temas pesados, como violência policial, a pedofilia, racismo e feminicídio. Se em algumas canções faltou um pouco de peso para ser mais catártico ao vivo, ele bebeu da estética punk do cabeça dinossauro e representou bem o legado da obra-prima dos Titãs.

Ouça: O álbum tem uma sequência ótima com as primeiras oito músicas que consegue dar, que te faz pensar e admirar a força do álbum. Mas o resto também é sensacional

Esqueça: 'Eu me sinto bem' talvez seja a música menos ruim, que acaba destoando um pouco do álbum com letras tão fortes e bem feitas.


Televisão



O primeiro álbum com Charles Gavin nas baquetas teve a ideia ousada para de que cada faixa soasse diferente, como se quem ouvisse estivesse trocando de canal igual em uma televisão. Uma ideia sensacional, que acabou não sendo executada tão bem, muito pela inexperiência do grupo e do seu produtor, Lulu Santos, que ficou puto quando pegaram o grupo falando mal dele, deixando aquele clima gostoso pra gravar o álbum. 

Televisão teve músicas com letras ótimas, mas com arranjos inadequados, e as canções ficaram esquecidas. E muitas delas renasceram em álbuns ao vivo, como 'Pra dizer Adeus', 'Não vou me Adaptar' e 'Insensível', que se tivessem arranjos melhores do que naquela época, arrisco dizer que o grupo estouraria antes de 'cabeça'. Mas ainda bem que não estourou com televisão, porque talvez não teríamos aquela obra-prima no ano seguinte

Ouça - "Televisão" é sensacional, apesar de ninguém mais saber quem é o cridê, é uma puta letra absurdamente simples. 'Pavimentação', e 'Não vou me adaptar' em reggae soa bem, e claro, 'Massacre', que sem querer (ou não) indicava o caminho que a banda poderia seguir. uma bela de uma porrada na orelha - que quando eles tocavam nos programas de TV era sensacional (Não achei nada no youtube que vi no doc do titãs, então fica o clipe bem locão que a TV manchete fez em um especial dos titãs)  .

Esqueça - Nunca me liguei no lado B, Canções 'como tudo vai passar', 'o homem cinza', 'sonho com você' e 'autonomia'  foram esquecidas por mim e pela grande maioria dos fãs padrão.


Titonomaquia



O álbum que foi o primeiro sem  Arnaldo Antunes, foi onde a banda resolveu botar todo o peso possível em suas músicas, influenciado pelo grunge, e como prova de que eles tinham rompido totalmente com o som que faziam nos anos 80. A veia grunge foi tão evidente que eles chamaram Jack Endino, que produziu o Nirvana, foi chamado pra produzir este álbum, que é muito bom, uma bela porrada, mas foi deveras esculachado na época.. Mas acho que por conta das portas fechadas do Tudo ao mesmo tempo agora, e também da falta de uma canção mais radiofônica, não brilhou como deveria, mas ganhou merecidamente status de cult ao longo dos anos. Mas claro que pesou a ausência de Arnaldo Antunes, que se enveredou mais para a MPB em sua carreira solo, e algumas letras do álbum ficaram meio rasas, mas nada que comprometa muito.  

Ouça: Eu sou bem suspeito, porque eu gosto muito desse álbum pelo peso dele, mas as seis primeiras músicas, mais 'Fazer o quê?' 'A verdadeira Mary popins' 'Felizes são os peixes' e taxidermia' são fodas demais. Paulo Miklos brilhou demais nas suas faixas.

Esqueça: 'Tempo pra gastar' ficou meio deslocada nesse disco, nunca ouvi muito essa faixa.


Õ Blesq blom



Agora vem a parte difícil, que é classificar essa trilogia que pra mim é praticamente perfeita. O blesq blom é um álbum que tem uma banda amadurecida musicalmente e com letras inteligentíssimas e de fácil entendimento, abraçando a ideia de world music - que Caetano Veloso ressaltou no press release do álbum - que a banda já flertava no último álbum, usando sintetizadores e bateria eletrônica, deixando o som mais palatável a todos, e colocando ainda algumas pitadas de ritmos regionais do Brasil - com os fofos Mauro e Quitéria, que eles ouviram cantando em troca de trocados no Recife, gravaram e ganharam o mundo - inclusive, o nome do álbum é inspirado em uma expressão que Mauro falava.

O álbum é um retrato de um grupo maduro, que já tinha um caminho certeiro para chegar no coração de milhares de fãs e que na visão do Sérgio Brito, pode ter influenciado bandas como Chico Science e a Nação Zumbi e Raimundos, que beberam muito da fonte rock misturado com música regional. Só pelo fato de 'O pulso', que lista todo o tipo de doença para no fim dizer que o pulso ainda pulsa, uma impensável música de trabalho se analisar friamente, virou um megahit e virou o hino dos hipocondríacos (Badumpsss). Talvez se tivesse mais guitarras no álbum, ele estaria mais acima, mas Fromer e Bellotto tiveram dois álbuns para se destacar - pena que não foram tão bem falados como este.  

Ouça: O início com a vinheta do Mauro e Quitéria, trazendo 'Miséria', uma das canções mais sensacionais da história da música brasileira, é matadora. 'Palavras', 'Medo' (adoro o verso 'o que se crê/não se cria' que o Arnaldo fez), 'Flores', 'O pulso', '32 dentes', 'Deus e Diabo'...cara esse álbum é muito bom

Esqueça: Difícil, mas talvez  'racio símio' e 'camelo e dromedário' serem boas sacadas, mas pode passar rapidinho enquanto eu não estiver olhando.


Jesus não tem dentes no país dos banguelas



 Muitos dizem que este álbum é melhor que o primeiro da lista e existem motivos plausíveis pra isso. A raiva passou um pouco, e com isso, a guitarra e a bateria rugiram menos e os sintetizadores e a bateria eletrônica entraram com mais força. E aí as letras foram mais observadas e, convenhamos, que letras maravilhosas. 

Os Titãs estavam mais afiados do que nunca, e as críticas sociais e existenciais se mantiveram fortes, com canções que soam atuais até hoje, por conta da melhor elaboração das canções, mostrando um amadurecimento do grupo a olhos visto, com todos mostrando muita qualidade.  E o detalhe de não ter intervalo entre as músicas é sensacional, não dá tempo pra você respirar e raciocinar em que canção está.

'Jesus' - que é uma letra sucinta e matadora como a música título do álbum anterior  -  é um discasso, em que você dança, pula, pensa e depois ficar cantarolando por aí os clássicos.  E pensar que muita gente penso que a banda não iria conseguir manter o sarrafo lá no alto depois do primeiro da lista

Ouça: 'Comida' é um hino atemporal. que letra sensacional do Arnaldo Antunes. 'Diversão' é perfeita,  uma das minhas músicas preferidas dentre todas do Titãs. A sequência que começa em 'Desordem' e termina com 'Violência' beira a perfeição também, não tem como ficar parado.

Esqueça: 'Infelizmente' e 'Mentiras' são as músicas menos legais para mim, ao meu ver. E deixou 'Jesus' encaixotada no meio delas


Cabeça Dinossauro


O que falar do que ainda não foi dito deste que é um dos álbuns mais viscerais da história da música brasileira. intitulado para ser metade racional e metade animalesco, o disco acabou sendo Um manifesto a todas instituições, com muita raiva e que entrou pra história. Um álbum punk com piadas de pós punk e reggae, com backing vocals nervosos, que levou a banda finalmente ao patamar merecido, uma das grandes do Rock nacional. Não tem mais o que falar, a não ser dizer pela milésima vez nesse texto que esta é a Obra-prima do grupo.

Não vai ter ouça ou esqueça aqui, vamos música a música:

"Cabeça Dinossauro" - Rock tribal, que com três frases que mexeu com a ancestralidade de todo mundo. Afinal, ninguém grita 'PANÇA! PANÇA! PANÇA DE MAMUTE!' sem parecer um neanderthal faminto com ódio no olhar. Histórico.

"AA UU" - Um riff grudento, um refrão mais ainda, Sérgio Britto gastando as cordas vocais, backing vocals intensos, uma música sobre estar estafado já em 1986 que foi a primeira música de trabalho do disco. E embora ela tenha mais a cara do 'televisão' do que o 'cabeça' - até já era tocada ao vivo, ao vivo, ela ganhou um puta peso e ficou melhor ainda.

"Igreja" - Nando Reis fez o hino dos ateus, deixando claro que não gosta de nenhuma instituição católica, algo que hoje seria polêmico, imagina em 1986 gritar a plenos pulmões que não gosta de igreja e não tem religião. Se tivesse um palavrão na letra igreja não soaria tão verborrágica. E a raiva às instituições continuaria no próximo hino, digo próxima faixa

"Polícia" - Tony Belloto puto para caralho por ter sido preso por porte de drogas junto com o Arnaldo Antunes, fez o hino da repressão policial; Mais raivosa e punk, impossível. Não tem como ficar parado e não cantar junto com os backing vocals. Canção genial.

"Estado Violência" - Uma música do Charles Gavin não aproveitada no Ira!, que ele refez a letra por conta da prisão do Belloto e do Arnaldo, e ficou sensacional. Não tem a raiva punk de polícia, mas na letra é dito tudo, parecia que os integrantes do titãs que foram presos é que fizeram a canção. Ali Charles mostrou que podia ser um grande letrista, pena que não tivemos tantas canções suas na discografia do grupo.

"A face do destruidor' - Mais uma canção raivosa, puro punk rock onde Sérgio Brito solta o gogó nervoso cuspindo 800 palavras por segundo e gravado em um take só. Quem souber cantar essa música tá mentindo. Nem o Sérgio sabe mais cantar isso, sinceramente kkkk

"Porrada" - Se você é fã dos titãs e não deu parabéns para as meninas da torcida adversária e não gritou porrada pros caras de fazer nada, você tá muito errado. Que música maravilhosa, outra canção que os backing vocals estão decorados na mente de todo fã. 

"Tô cansado" - Talvez seja a canção menos legal desse disco. Não que ela seja ruim, ela tem um ar meio pós punk na letra e no arranjo, mas é uma daquelas canções que acabam passando desapercebidas por conta da que veio antes e a que veio depois, dois megahits eternos

"Bichos escrotos" - Que puta clássico. E é uma música tão revoltada e contagiante, linha de baixo linda, riffizinho do Belloto animal - como estavam inspirados nesse disco o Tony e o Fromer - em uma época pós ditadura que não podia ter música com palavrão na rádio, as emissoras preferiam pagar a multa do palavrão emitido porque o retorno que dava valia a pena. E pros Titãs valeu demais, um megahit que até hoje se tocar todo mundo vocifera a canção do fundo da alma

'Família" - Nando Reis matador de novo, com o hino da família, enumerando os problemas de toda  família já passou um dia na vida e fez uma identificação imediata de todos. Um reggae bem gostoso de se escutar, com os backing vocals bem decoradinhos. Linda canção.

"homem primata" - Outra musicassa. Letra perfeita e com o refrão que virou um clássico que muita gente cantou e canta errado - é 'homem primata/capitalismo selvagem', e não 'homem que mata'. Os versos em inglês foram os primeiros que eu consegui cantar sem imbromation na vida. Sem contar que os versos 'você vai morrer/e não vai pro céu/ é bom aprender/ a vida é cruel' foi aquela porrada que o moleque fedendo a leite que vos tecla recebeu bem no estômago na época.

"Dívidas" - uma canção sensacional que infelizmente foi eclipsada. E não deveria, pois uma música que fala de dívidas e credores, era para ter sido hit em todo território nacional. Talvez se não fosse um reggae e sim, uma música mais agressiva, teria ficado para a história. Mas ouçam, ela merece ser ouvida.

"O quê?" - Um prenúncio do que viria em 'Jesus', muito sintetizador e Arnaldo Antunes doutrinando nas letras. E ele pode usar e abusar do concretismo, gênero literário que ele tanto ama - nesse refrão grudento que todo mundo sabe de cor. Baita canção.



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